Estamos na dourada habitação da luz. Do alto do céu todo o vasto continente brasileiro aparecerá como um diamante a cintilar nas sombras do Infinito… A terra é perpetuamente vestida de luz. A sua refulgência abre no silêncio dos espaços uma claridade inextinguível, fulva, ardente, branda ou pálida. Tudo é sempre luz.
Descem do sol as luminosas vagas ofuscantes, que mantêm na terra a quietação profunda. A luz tudo invade, tudo absorve. Chapeia nos cimos das montanhas, derrama-se pelos vales, penetra nos desvão das árvores, e a mata rutila como uma esmeralda; espia pelas fendas da terra e um sol se abre nas grutas sepulcraes. A vida não adormece ao implacável clarão; vibra, fulgura o ar incandescido, a terra se volatiza numa pulverização de luz. Desmaiam as cores do mundo e tudo se torna da cor da luz.
Graça Aranha
A estética da vida
1921
Leandro Estevam, 2021