Encerrando este ciclo de ocupações do Pivô Satélite temos o museu que tem agitado as redes sociais brasileiras (e gringas) desde sua inauguração – ou, melhor dizendo, primeira postagem – em 31 de julho de 2020. Em cerca de um ano e meio o New Memeseum cresceu nas arquiteturas virtuais das redes sociais e atualmente conta com quase cento e cinquenta mil seguidores. A coleção deste museu é inusual no que diz respeito ao estatuto da arte, mas extremamente comum quando o assunto é a forma como os brasileiros se utilizam das redes sociais: os memes são os seus objetos de atenção, resguardo e divulgação. O olhar da equipe de direção desse museu é muito preciso; interessa aos agentes anônimos por trás da página refletir especificamente sobre as relações entre o humor e os absurdos dos sistemas das artes visuais no Brasil.
Como escreveu uma vez o grande Daniel Santiago, em 1982, “O Brasil é meu abismo”. É nessa cordilheira de quedas constantes que se faz o percurso dos profissionais das artes visuais no Brasil – em especial os que herdaram traumas e nenhum bem material. Nesta ocupação do espaço do Pivô Satélite, a direção do New Memeseum voltou seu olhar para um bem que afeta a população brasileira neste momento: os botijões de gás. A partir de uma chamada aberta via Instagram e de seu costumeiro olhar cirúrgico, o museu apresenta uma coleção de imagens de botijões de gás decorados artesanalmente das mais diversas formas. Misturadas a essas imagens, frases e memes problematizam o aumento crescente desse objeto tão essencial para a economia doméstica no país.
Essa ocupação está baseada, portanto, em um mosaico de imagens, frases e situações que dançam conforme os absurdos orquestrados pelo governo brasileiro nos últimos anos. O botijão de gás, portanto, se torna em ícone, problema e ready-made. Quem ri por último, ri melhor? É o que dizem, mas quando o assunto é a classe trabalhadora das artes visuais – que também sofre com o aumento do botijão de gás, não esqueçamos –, choro e riso parecem se tornar numa coisa só. Chorremos, portanto.