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15:41 - 29/02/2024
ULTIMA ATUALIZAÇÃO::
Entrevista com a DJ Kikelomo, da Oroko Radio
DJ Kikelomo na abertura de Pivô Salvador, 2024. Ph: Ricardo Prado.

O Pivô entrevistou a DJ britânica-nigeriana Kikelomo, que participou da programação de abertura do ano de 2024 do Pivô Salvador, permanecendo na residência artística de 1 a 10 de fevereiro.

 

Kikelomo é DJ, apresentadora, curadora, anfitriã do Boiler Room e co-fundadora da Oroko Radio. O som eclético de Kikelomo é fruto de muitas influências, incluindo sua cidade natal, Londres, e suas raízes nigerianas. Seus sets cheios de energia se tornaram conhecidos por uma habilidosa mistura e ecletismo, e seu som único, por sua vez, tornou-se mundialmente famoso.

 

A Oroko é uma estação de rádio comunitária sem fins lucrativos que se estabelece como uma plataforma para as comunidades criativas africanas e diaspóricas, conectando, inspirando e capacitando artistas locais, nacionais e internacionais de diferentes disciplinas por meio de conversas e colaboração. A Oroko Radio busca recuperar e re-centrar as narrativas das comunidades artísticas africanas e diaspóricas, com foco especial nas perspectivas locais em Accra, além de cultivar e nutrir relacionamentos com projetos semelhantes em todo o mundo. A Oroko Radio destaca sons e pensamentos alternativos provenientes do continente africano e influenciados por ele. A estação oferece um palco para músicos, DJs, pensadores, moderadores e criadores de conteúdo locais: um centro independente para a expressão de si mesmo e do pensamento por meio do som.

DJ Kikelomo na abertura de Pivô Salvador, 2024. Ph: Ricardo Prado.

Pivô: Como foi sua participação no Pivô Salvador?

Kikelomo: Foi incrível poder participar de um evento tão bonito. O evento parecia muito bem curado e atraiu uma mistura maravilhosa de pessoas, entre apoiadores dos artistas e entusiastas das artes. Todos pareciam ter uma energia calorosa e positiva. Mesmo que eu não entenda muito português brasileiro, poder ouvir e tentar acompanhar as conversas – e algumas das palestras também – foi realmente inspirador.

E no geral, foi tudo muito positivo! O clima estava ótimo. Além disso, o ambiente, o pequeno jardim, era tudo muito acolhedor e familiar, cheio de plantas… Foi um prazer fazer parte disso!

 

P: Você falou sobre Salvador e sua gentileza. Conta um pouco mais sobre isso?

K: Com relação à gentileza e Salvador em geral, acho que vindo… ou tendo nascido e crescido principalmente em um ambiente europeu, meu tempo no Brasil, e especificamente em Salvador – porque Salvador foi a primeira parada da minha viagem – parece ter uma gentileza calorosa, que parece quase familiar, ou como se estivesse chegando encontrar minha família, sabe, de estranhos a novos amigos que conheci no Pivô, como Laís Amaral, que agora somos amigas e saímos juntas no Rio de Janeiro depois do nosso tempo em Salvador. As pessoas realmente se esforçaram para chegar perto, dar um oi e ajudar no que podiam. E parecia ser um tipo de gentileza que não é transacional. Às vezes, especialmente na indústria criativa, as pessoas podem querer te ajudar, mas sempre estão esperando algo em troca. Mas eu não senti isso. Não me senti assim em Salvador de jeito nenhum. E também, especificamente para mim, que sou nigeriana e tenho uma herança iorubá muito forte, também tinha uma familiaridade nisso, em ver as referências à minha cultura em música, vestimenta e a celebração de Yemanjá e todos os outros Orixás. Foi incrível viver isso, Salvador é uma cidade muito gentil.

DJ Kikelomo na abertura de Pivô Salvador, 2024. Ph: Ricardo Prado.

P: Qual é a sua opinião sobre a música brasileira? Vi que você incluiu músicas brasileiras incríveis em sua playlist (que amamos!)

K: A música brasileira é reconhecida mundialmente por seu impacto na cena musical global. Acho que o que a torna tão especial é que você pode ouvir todas as influências e todos os elementos culturais que fazem do Brasil, o Brasil. Sejam os ritmos e claves da África Ocidental, como as variedades de compassos, ou a percussão indígena, ou as influências europeias também. E acho que uma das coisas que a torna tão especial é que é realmente participativa. A música brasileira incentiva as pessoas a participarem, especialmente com o samba e outros elementos. É muito calorosa, positiva, reflexiva e me inspira muito.

 

P: Como seu tempo no Brasil será refletido em sua pesquisa para a Oroko Radio? Você está planejando alguma colaboração com artistas brasileiros depois dessa viagem?

K: Meu tempo no Brasil definitivamente me inspirou a usar a Oroko Radio como um veículo para construir conexões mais fortes entre produtores culturais no Brasil e na África Ocidental. Fiquei realmente inspirada ao ver as fortes bases da África Ocidental na cultura brasileira, especialmente na Bahia, mas também ao entender como isso tinha se fundido e evoluído para algo tão distinto, mas também amplamente celebrado. A celebração das práticas indígenas foi, em certa medida, demonizada na África Ocidental, então foi ainda mais inspirador para mim ver isso ao vivo.

Existem centenas de conexões compartilhadas em nossa história, linhagem, cultura e música, mas essas conexões foram fragmentadas pelo colonialismo, fronteiras, barreiras físicas e de conhecimento.

O que acontece quando, séculos depois, começamos a unir esses mundos e construir novamente pontes entre essas comunidades?

Eu adoraria produzir um segundo corpo de trabalho colaborativo entre artistas brasileiros, nigerianos e ganeses (talvez como um intercâmbio de residências), usando uma fusão de disciplinas artísticas como música, artes, dança e escrita para explorar as questões levantadas.

Atualmente, estou terminando um documentário sobre a ciência do que acontece em seu cérebro quando você ouve música e por quê a música aproxima as pessoas, de uma perspectiva científica. Adoraria falar sobre descobertas científicas dessa pesquisa também!

Tive também o prazer de me conectar com alguns DJs brasileiros durante minha viagem e já convidei alguns para contribuir regularmente com a Oroko com programas de rádio. Fiquem ligados!

Mais uma vez, agradeço muito à incrível equipe do Pivô por sua hospitalidade e inspiração, e espero que possamos trabalhar juntos em breve novamente.

 

 

Para encerrar sua temporada no Pivô Salvador, a DJ preparou uma playlist de 3 horas, carregada com artistas de diversas regiões da África e da Inglaterra -parte da sua extensa pesquisa da Oroko Radio-, em diálogo com músicas brasileiras que a tocaram durante sua passagem pelo Brasil, como Arthur Verocai, Os Tincoãs e Jorge Ben Jor.

 

A playlist está disponível no perfil da Oroko Radio.

Ouça aqui.

 

Saiba mais sobre a Oroko Radio.

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