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19:28 - 17/10/2023
ULTIMA ATUALIZAÇÃO::
[Pivô Satélite 2023] Entrevista com Vânia Leal

Conheça Vânia Leal, curadora do Arte Pará. A curadora este em diálogo direto com  Ramon Reis, artista do Pivô Satélite 2023.

A entrevista foi conduzida por Ana Roman, curadora do Pivô.

Ana: Olá Vânia, a primeira pergunta que eu vou fazer é para você contar um pouquinho da história do Arte Pará, em poucas palavras. 

Vânia Leal: O Arte Pará, ele é, na minha concepção, um dos maiores projetos de arte contemporânea das Amazônias e do Brasil. Ele está na sua 41a edição e é um dos projetos de arte mais antigos do país.

O projeto se torna significativo em um contexto mais amplo a partir desse processo curatorial. O Paulo Herkenhoff, que está no Arte Pará há mais de três décadas, propôs que a curadoria se desse a partir da seleção e do convite a artistas de todos Brasil.

Além disso, o projeto tem uma importância muito grande para os artistas, para os curadores, para os educadores, para todo o sistema da arte paraense. Ele faz parte do calendário da cidade, surgiu no mês de outubro, que é o mês do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, e mobiliza a todos: escolas, pequenas cidades do interior do Estado, todos se organizam para participar do projeto.

Se eu pudesse resumir, o Arte Pará é um grande evento que, de fato, coloca o público em contato direto com a arte contemporânea.

Ana: Como e há quanto tempo você atua no Arte Pará?

Vânia Leal: Dezessete anos. Eu começo no Arte Pará, pois o Paulo queria uma pessoa que fosse da área de educação para gerenciar um projeto educativo. O educativo sempre foi uma preocupação da instituição através da direção de Roberta Maiorana , mas, naquele contexto específico, ele pedia que fosse uma professora, uma pessoa aliada a todo esse sistema da Arte Educação.

E eu tenho um professor, que foi meu professor e meu objeto de estudo no mestrado, que é o artista Alexandre Sequeira. Já tínhamos trabalhado juntos em outros lugares, e ele foi quem me apresentou para a equipe da Fundação Rômulo Maiorana para desenvolver o projeto educativo. E ali se inicia um grande processo de colaboração,.

O Educativo passa a ser visto como um segmento do Arte Pará: ele se afirma como importante, porque é aquele que realmente traz a grande dialógica.

A partir daí, comecei então a colaborar também na frente de realização de catálogos e, em 2017, fui convidada para curar uma das salas do evento: a sala das mulheres.

Ana: Super interessante isso que você falou! É bonito ver como criam-se conexões entre as pessoas e formam-se redes de atuação, que acabam mudando nossos caminhos como pessoas físicas, mas também instituições, né? Nesse sentido, queria ouvir um pouco sobre a maneira pela qual você vê a importância de parcerias institucionais, como esta que estamos realizando neste momento no Pivô Satélite?

Vânia Leal: Olha, a gente teve um ganho muito importante na edição de 2022, que foi a Laura Rago, que está aí em São Paulo. Ela integra o projeto Arte Pará junto comigo e com a Roberta, e aí começam a fazer conexões (Roberta e Laura) e surge essa possibilidade dessa parceria do Pivô tanto na residência quanto no Satélite.

Quando surgiu essa possibilidade, reuniu eu, Laura e Roberta, e elas me indicaram para acompanhar os artistas que seriam o objeto do comissionamento de trabalho audiovisual. Eu fiquei super lisonjeada.

Eu acho muito importante que a seta vire mesmo para o Norte, que mais parcerias se ampliem nesse sentido de trazer outras pessoas também que pensam esse circuito, que possam colaborar como artista, como curador, como educador. Não é achismo não, eu tenho certeza, a convicção de que foi um salto que o Arte Pará deu nesse sentido dessa parceria que foi travada com o Pivô.

Ana: Para o Pivô Satélite 2023, o Arte Pará esteve em diálogo direto com o UV Estudios, da Argentina. Como você viu essa possibilidade de ter como interlocutor também o UV nesse processo de trabalho?

Vânia Leal: Eu gostei muito desse atravessamento, da possibilidade de criar uma conexão do Norte do Brasil com outro país. E o mais legal é que, nas próprias poéticas dos artistas, nós conseguimos ver as aproximaçõe; parece que – apesar de longe geograficamente – a gente está junto, pensando, produzindo a partir das mesmas questões.

Essa colaboração é um ganho muito significativo para todos nós.

Ana: Eu também acho e é muito importante celebrarmos as conexões e as possibilidades de diálogo. Gostaria de ouvir um pouco sobre como se deu a escolha e seleção de artistas feitas pelo Arte Pará para o Satélite. 

Vânia Leal: Foi uma decisão bem coletiva mesmo: eu, Laura e Roberta nos reunimos e refletimos intensamente sobre os artistas que poderíamos sugerir e os motivos individuais para isso. 

No caso específico do Ramon, a escolha tem relação direta com a edição de 2022 do evento. Ramon foi selecionado em uma categoria que foi criada ano passado que chama Fomento à Produção de artistas emergentes da Amazônia Legal. A participação dele no projeto foi muito interessante, pois ele teve uma participação muito ativa no educativo do Arte Pará e na formação dos mediadores e também foi muito boa a troca conosco da curadoria. Constituimos, com ele, uma relação super dialógica. 

 

Ana: Como foi o processo de trabalho com o Ramon?

Vânia Leal: O trabalho do Ramon que eu conhecia era aquele vinculado à perspectiva de antropologia e morte, que mostramos no Arte Pará. Depois de alguns encontros com ele – e muito diálogo – ele sugeriu que gostaria de voltar a terra natal, que é o município de Salinópolis, a 220 quilômetros da capital paraense. Ele queria retomar essa questão da história, da memória e da ideia de ancestralidade.

Ramon sugeriu ater-se ao saber fazer dos Povos Indígenas Tupinambá, à escuta dos territórios, e às cosmologias deste lugar. Salinas é um lugar de praia, marcado pelo turismo.

Ele foi para Salinas em trabalho de campo como artista e antropólogo. Ele foi no mercado, no boxe onde o avô dele vendia o peixe. Ele foi… o mangue, o mar, nas escolas, nas ruas, ele percorreu lugares por onde ele transitava, muito na sua infância e adolescência.

Quando ele volta, retomamos nossa conversa e partimos para o pensatório. Muita conversa, troca, diálogo. E, por fim, vamos, no Dia do Trabalho, com uma equipe audiovisual filmar o trabalho. Ramon imerso no mangue, e eu muito silenciosa, como aquela testemunha ocular mesmo daquele momento que era muito dele. No final, ele se lança ao mar, e vocês terão uma surpresa quando assistirem o filme.

Eu aprendo muito com o Ramon. Eu aprendo muito nessa troca de muita escuta.

Ana: Muito interessante o processo que vocês compartilharam. Vania, queria te perguntar qual o papel do curador para você?

Vânia Leal: O papel do curador é perceber, e torna-se uma espécie de esse canal de percepção daquele artista que faz, que está ali e que está produzindo de uma forma muito veemente. Artista não tem começo nem fim: tem possibilidade de caminhos, de jornadas ainda a serem executadas. Cabe a nós, curadores acolher, dialogar e ajudar nos caminhos possíveis.

Ana: Vânia, muito obrigada pelo tempo e pela conversa. 

Vânia Leal: Queria falar uma coisa antes de fecharmos, Ana! Nem sempre é fácil ser do Norte, Papa-chibé e estar transitando entre processos curatoriais fora daqui, de seleções, enfim, sempre é um grande desafio: tem prazer, mas tem dor também. Mas a gente tem que ter essa leveza e sair mesmo, se lançando e falando com todo o querer e paixão que a gente tem. Então eu queria dizer que o planeta é redondo, e chegará um dia que a gente vai entender que não há centro. Eu quero seguir sob a luz do Ariano Suassuna, que ele diz: ao redor do buraco tudo é beira. As agendas relacionadas a Centro Sul, o Centro, Norte, Nordeste, Centro Oeste são pedagogicamente necessárias neste momento. No futuro, não vai haver mais centro, e todas as conversas – como esta que estamos tendo no Pivô – serão naturais, vamos fazer esses atravessamentos com muita proximidade.

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