Pivô recebe a artista e pesquisadora Denise Bertschi que apresentará sua pesquisa seguida de uma conversa com os artistas Aline Motta e Pedro Zylbersztayn. O evento será moderado pela curadora do Pivô Sylvia Monasterios.
A palestra apresenta o recém-concluído doutorado da artista e pesquisadora urbana Denise Bertschi (1983, Suíça), realizado no ‘Laboratório de Artes das Ciências’ na EPFL Lausanne.
A apresentação do doutorado, é seguida por uma mesa-redonda com os artistas Aline Motta (1974, Niterói), e Pedro Zylbersztajn (1993, São Paulo).
Inspirada na extensa pesquisa artística de Denise Bertschi, esta palestra aborda os emaranhamentos da colonialidade suíça no Brasil sob a perspectiva de terra, arquivo e visualidade. Os duradouros legados históricos ambientais do plantationoceno na antiga Colônia Leopoldina (1818–1894) no nordeste do Brasil foram fortemente moldados por proprietários suíços de plantações, que dependiam da exploração baseada na escravidão tanto da terra quanto dos trabalhadores. O longo processo, desde a apropriação de terras, desmatamento até o estabelecimento de plantações monoculturais de café no século XIX, ressoa na condição contemporânea de Helvécia, uma comunidade quilombola de descendentes dos africanos escravizados da Colônia Leopoldina e na megaestrutura atual de plantações de eucaliptos. Memórias violentas dos tempos da escravidão estão profundamente conectadas aos sinais (invisíveis) na paisagem que circundam a Helvécia atual, contrastando fortemente com a historiografia dos arquivos oficiais da plantocracia suíça.
Representada e protegida por um consulado nacional suíço estabelecido na colônia em meados do século XIX, num momento crucial da construção da nação suíça, quando a Confoederatio Helvetica recebeu sua primeira constituição moderna, essa pesquisa demonstra a formação do estado suíço não apenas na terra natal, mas em terras distantes e seu envolvimento direto na colonialidade no Brasil. Com foco em processos estéticos e espaciais, este projeto de pesquisa contribui para a história colonial suíça com um estudo de caso in-situ preciso entre Bahia, no Brasil, e Neuchâtel, na Suíça, de onde a maioria dos plantadores da Colônia Leopoldina originou-se, e considerável capital colonial foi convertido na paisagem arquitetônica e institucional da cidade.
Reconectar esses territórios entrelaçados é urgentemente necessário não apenas para compreender a devastação ecológica na plantação, mas para introduzir uma outra forma de ler a paisagem suíça moldada pelo colonialismo e escravidão.
O objetivo final de Denise Bertschi é abordar questões das implicações de longa duração da colonialidade suíça no Brasil, sua responsabilidade e as (im)possibilidades de reparação.
Pivô Recebe | Palestra ‘Refletindo a Colonialidade Suíça: Terra, Arquivo, Visualidade entre Brasil e Suíça’
Com Denise Bertschi, Aline Motta e Pedro Zylbersztajn
15 de maio | Quarta-feira
19h
Na biblioteca do Pivô São Paulo
Entrada gratuita (*sujeito a lotação)
Denise Bertschi possui um doutorado em Artes, Arquitetura e Ciências Ambientais pelo “Laboratório de Artes das Ciências” na EPFL Suíça. Sua pesquisa artística está localizada na interseção da cultura visual, urbanismo crítico e história. Ela investiga criticamente não apenas arquivos, mas paisagens ou o ambiente construído em seu emaranhamento colonial relacionado ao papel da Suíça na expansão extra-europeia. Seu trabalho acadêmico e artístico se manifesta em instalações de vídeo, publicações de livros ou filmes e levanta questões sobre mitos culturais, como a neutralidade suíça ou a colonialidade da Suíça.
O trabalho premiado de Denise Bertschi é amplamente exposto; no Centre Culturel Suisse em Paris, no Museu Nacional Suíço, no Fotomuseum Winterthur, no Artsonje em Seul (Coreia do Sul), no Artivist em Joanesburgo (África do Sul) ou no LACA Los Angeles. Anteriormente, ela foi Fellow de Verão de Pesquisa Getty (Los Angeles) e artista residente com Pro Helvetia, La Becque e CAN Centre d’Art de Neuchâtel. Ela publicou várias monografias, incluindo “State Fiction. The Gaze of the Swiss Neutral Mission in the Korean DMZ” (Centre de la Photographie Genève, 2021), “Strata. Mining Silence” (Aargauer Kunsthaus, 2020), e seu livro mais recente, o volume coeditado “Unearthing Traces. Dismantling the imperialist entanglements of archives, landscapes and the built environment” (EPFL Press, 2023).
Combina diferentes técnicas e práticas artísticas em seu trabalho, como fotografia, vídeo, instalação, performance e colagem. De modo crítico, suas obras reconfiguram memórias, em especial as afro-atlânticas, e constroem novas narrativas que invocam uma ideia não linear do tempo.
Foi contemplada com o Programa Rumos Itaú Cultural 2015/2016, com a Bolsa ZUM de Fotografia do Instituto Moreira Salles 2018 e com 7º Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça 2019. Recentemente participou de exposições importantes como “Histórias Feministas, artistas depois de 2000” – MASP, “Histórias Afro-Atlânticas” – MASP/Tomie Ohtake, “Cuando cambia el mundo” – Centro Cultural Kirchner, Buenos Aires, Argentina e “Pensar tudo de nuevo” – Les Rencontres de la Photographie, Arles, França. Abriu sua exposição individual “Aline Motta: memória, viagem e água” no MAR/Museu de Arte do Rio em 2020. Em 2021 exibiu seus trabalhos em vídeo no New Museum (NY) no programa “Screen Series”. Em 2022 lançou seu primeiro livro “A água é uma máquina do tempo” pelas editoras Fósforo e Luna Parque Edições, abriu exposição individual no átrio do Sesc Belenzinho e na sala de vídeo do MASP. Em 2023, expôs na 15a. Bienal de Sharjah, e no MoMA em “Chosen Memories: Contemporary Latin American Art from the Patricia Phelps de Cisneros Gift and Beyond” e, proximamente, na 35a Bienal de Arte de São Paulo.
Participou da exposição Entre Nós: dez anos da Bolsa ZUM/IMS em 2023.