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14:35 - 17/10/2023
ULTIMA ATUALIZAÇÃO::
Ventura Profana traz o seu evangelho para o Pivô Satélite
Foto: Igor Furtado

A artista visual, pastora missionária, cantora evangelista, escritora e compositora Ventura Profana participa da terceira edição do Pivô Satélite, a plataforma para projetos digitais do Pivô. procure vir antes do inverno reúne uma série de obras inéditas em texto, vídeo, fotografia e colagem. O trabalho de Profana questiona a hipocrisia moral e a lógica patriarcal, branca e capitalista das igrejas, especialmente as neopentecostais. A proposta integra o projeto curatorial Sexo, Mentiras e Videotape, de Raphael Fonseca.

 

Assista aqui.

 

Ventura Profana profetiza a queda do senhor. Sua missão é evangelizar, ou seja, espalhar as boas novas que anunciam o fim do estado colonial, do domínio do macho e da supremacia branca. Criada em uma família batista tradicional do interior da Bahia, Profana tem estruturado seu trabalho a partir do conceito de “edificação”, a construção espiritual e física de uma fortaleza que acolha, abrigue e dê conta de projetar vidas pretas travestis, vidas dissidentes, no que chama de um “campo eterno”. Ela explica: “Meu trabalho é refletir o tempo todo sobre o plano maligno que nos aprisiona num cativeiro temporal de morte. A maneira como esse cativeiro foi erguido é no espectro temporal da eternidade, quando o senhor se coloca como senhor dos senhores. Minha disputa é pelo eterno, assimilando as estratégias do inimigo para produzir bálsamos que sejam assertivos. É a restituição da minha imagem como corpo celestial, divino, superpoderoso. Disputo a eternidade sabendo de minha infinitude.”

 

O título da série de trabalhos, que Profana considera uma parábola, é extraído do apóstolo Paulo. É um confronto à figura do missionário, que viaja para pregar a palavra. No processo de assimilação das estratégias inimigas, a artista se apropria de textos bíblicos para a criação de poemas e colagens que denunciam a relação dos neopentecostais com a política, usando uma antiga bíblia de 1938 e uma bíblia em quadrinhos, a primeira que ganhou quando ainda era criança.

 

O vídeo que encerra a série, Tabernáculo da Edificação, apresenta um registro da pintura da fachada da casa onde a artista e pastora mora e ministra seus cultos, no bairro do Rio Comprido, região central do Rio de Janeiro. A narração do vídeo traz um depoimento da avó da artista. Ela lembra seu passado como evangelista, comenta os desafios da vida pastoral e ensina a neta a lidar com a função de ser profeta. Acompanhada das amigas Bianca Kalutor e Rainha Favelada (uma Santíssima Trindade profana), Ventura Profana assa e come um peixe – símbolo da cristandade – ao lado de uma pintura mural onde vemos a Baía de Guanabara sem a estátua do Corcovado. Profana confronta o maior símbolo turístico da cidade, ícone do poder humano branco sobre a natureza. “Quando acuso esse mundo indecente medíocre, satânico, desequilibrado e maldito, meu parâmetro é a Baía de Guanabara, com todo o seu fedor”, revela, “um lugar que era um berço, reflexo da vida e da abundância, um manancial em estado de calamidade, tragédia, esgoto, horror e miséra, nitidamente uma cidade amaldiçoada”.

 

O Tabernáculo da Edificação é, nas palavras da artista, uma “congregação do fim dos tempos, escola de saberes, centro de ensinamento militar, bordel, templo sagrado com forças e espíritos profanos, dissidentes, abomináveis. Também é um laboratório de experimentos químicos, uma usina nuclear”. Para a artista, o Rio de Janeiro é o principal cenário da engenharia e da arquitetura colonial, racista e eugenista, “cujos resquícios estão por essas ruas vendidas para o mundo como a síntese do Brasil”. E conclui: “Cristo desmantelado, inimigo derrotado, ainda virão abominações maiores. Este é apenas o começo de uma história restituitiva.”

 

Sobre o projeto curatorial

 

Sexo, Mentiras e Videotape toma o seu título do filme homônimo de Steven Soderbergh, de 1989. Um dos icônicos diálogos do filme diz: “Um mentiroso é a segunda pior forma de um ser humano”. A partir dessa provocação, a narrativa gira em torno da noção de desejo, sexo, verdade e virtualidade. Na década de 1980 popularizou-se o acesso às câmeras portáteis de vídeo – assim como as noções de vigilância e ficção em torno de nossas próprias imagens filmadas.

 

Os quatro artistas reunidos nesta terceira edição do Pivô Satélite – Laura Fraiz, Eduardo Montelli, Ventura Profana e New Memeseum – constantemente colocam em xeque os limites entre a documentação e a ficção. A partir de vídeos, áudios, gifs e memes, exploram  suas autoimagens, tornando públicos questionamentos sobre fé, narcisismo, narrativas hegemônicas e crítica institucional. Para além dos limites, cada vez mais invisíveis, entre o que poderia vir a ser uma “verdade” ou “mentira” em 2021, há outro elemento essencial que os une: a capacidade de seduzir o olhar do público.

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