Sobre o que falamos quando apresentamos tecidos como obras de arte? Há uma opção quanto à fatura destas obras: elas são feitas à mão. O tempo humano entra na equação por essa porta. Os tecidos estão no mundo, não são virtualidade. São simultaneamente matéria presente e resíduo processual.
Daniel Albuquerque
No dia 09 de novembro, às 15h, o Pivô inaugura a exposição Cômodo, de Daniel Albuquerque. A mostra integra o programa Hello.Again, em que projetos inéditos de artistas em início de carreira são apresentadas na recepção da instituição, uma vitrine de 70m2 no térreo do edifício Copan. Albuquerque explora as potencialidades do espaço para dar continuidade à investigação sobre as implicações do uso do tecido como matéria de produção poética.
Cômodo reúne uma série de composições feitas em tricô sustentadas por correntes tensionadas por pesos pendendo do teto até o chão. As linhas verticais e horizontais que formam o quadro são distorcidas pela relação de forças criada pelos materiais distintos que compõem suas partes. Segundo Albuquerque, submetido às condições do espaço e da gravidade, o tricô pode ser entendido como um corpo presente, mas também como índice de seu processo de feitura.
Denominados Quartos, os trabalhos desta série enfrentam o problema da perspectiva espacial como construção cultural que orienta nossos modos de ver. Afinal, a maneira que enxergamos o mundo é intrínseca à visão ou aprendemos a enxergar dessa forma?
Albuquerque está interessado em explorar as diferentes percepções provocadas no espaço da recepção do Pivô: uma vitrine, lugar que se situa em posição intermediária entre exterior e interior. Além disso, a trama do tricô permite que se enxergue através dele, integrando os vazios à composição espacial. Para o artista, o positivo (a matéria) é entendido como continuidade do negativo do espaço vazado. Transparente e opaco se complementam.